Aqui no Algarve, o real, não aquela idiotice com dois ll's, somos anualmente visitados por uma sub-espécie tuga que eu apelidei de Agostinhos.
Agostinho porquê? Porque faz férias obrigatoriamente no mês de Agosto por circunstâncias várias: trabalho, filhos, praia, etc.
Este nosso compatriota, é facilmente reconhecível. A mim, basta olhar-lhe para a chipala (cara, se preferirem) e ainda antes do Agostinho abrir a boca, já sei que daí vem coisa... É que o Agostinho típico, está formatado para stressar quem com ele lidar e para armar confusão por onde passa. Mal comparado, parecem aqueles furacões que periodicamente assolam uma das partes do Mundo a que eu chamo de Paraíso, as Caraíbas. Para o observador menos atento, o Agostinho reconhece-se pelo enorme saco de praia que carrega (com as tralhas todas) e o seu chapéu de sol, que irá usar na praia, se possível numa zona não autorizada...
Num dia normal de férias, o Agostinho levanta-se, começa a juntar os apetrechos todos, vai tentando despachar a maralha e, depois de muita insistência, lá consegue fazer com que o pessoal se meta ao caminho. Aqueles que o podem fazer, e não são todos, dirigem-se então aos cafés para a primeira dose de cafeína e stress.
Aqui na Tasca, o procedimento standard é este:
Passo 1- escolhe-se uma das 15 mesas da esplanada, de preferência a que tenha loiça por levantar, e senta-se a maralha;
Passo 2- Agostinho direito ao balcão para fazer o pedido. Ao mesmo tempo, lá fora, o/a empregado/a de mesa está a dirigir-se à mesa Agostinha para receber o pedido;
Passo 3- primeira dose Agostinha: embirra com quem está ao balcão (eu) porque o/a mandei sentar na mesa e fazer lá o pedido;
Passo 4- segunda dose Agostinha: "já lá estou há mais de meia hora e ainda não fomos atendidos!";
Passo 5- o Tasqueiro conta até 10 lentamente;
Passo 6- chega o pedido à mesa;
Passo 7- "Já pedimos as coisas há mais de meia hora, e só agora é que chegam!"
Passo 8- terceira dose Agostinha: uma das adoráveis criancinhas (sim, porque nunca é só uma), dirige-se ao balcão para pedir mais qualquer coisa;
Passo 9- o Tasqueiro conta até 20 lentamente;
Passo 10- desta vez, Madame Agostinha dirige-se ao balcão;
Passo 11- o Tasqueiro, por precaução inicia a contagem, lenta até 25;
Passo 12- falso alrme. Madame apenas vai usar o WC;
Passo 13- Madame Agostinha, de passagem, reclama do serviço;
Passo 14- chega à mesa: "Falei com o Tasqueiro sobre o que está mal nesta casa (tudo) e não me ligou nenhuma!";
Passo 15- criancinha Agostinha nº2 levanta-se da mesa e dirige-se ao interior da Tasca,
Passo 16- nova contagem lenta até aos 30;
Passo 17- criança Agostinha entra balcão adentro;
Passo 18- o Tasqueiro informa a adorável criancinha de que ali não pode estar;
Passo 19- a criancinha faz de conta que não percebe;
Passo 20- "Aqui não é sítio para os meninos/as estarem!!!"
Passo 21- "Senhor... Senhoooor, dê-me um copo de água..."
Passo 22- criança Agostinha chega à mesa e dela levanta-se um dos Agostinhos crescidos;
Passo 23- começa nova contagem até 50;
Passo 24- Agostinho ao balcão: "Isto é uma vergonha! Nunca fui tão maltratado na minha vida! Não se admite, meia hora à espera das coisas! NUNCA mais cá venho!!!"
Passo 25- Tasqueiro: "51, 52, Por mim tudo bem. Está no seu direito. 53, 54, 55. Eu, no seu lugar, fazia a mesma coisa. 71, 72, 73"
Passo 26- "Ainda por cima está no gozo!"
Passo 27- "Quem, eu??? Impressão sua... 123, 124, 125 Nada disso, estou a dizer-lhe a verdade.154, 155"
Passo 28- "Está no gozo, sim! Este Algarve está cada vez pior. Vem uma pessoa para descansar e é enxovalhado/a desta maneira! NUNCA mais cá volto!!!!"
Passo 29- "Realmente nas Caraíbas está-se bem. Ai tá-se, tá-se... 578, 579 E faça-me um favor, vá pregar para outra freguesia porque de clientes assim não tenho falta nenhuma"
Passo 30- "Pode ter a certeza absoluta, não volto a pôr cá os pés! Só não peço o livro (de reclamações) porque os miúdos estão impacientes para irem para a praia, porque senão..."
Esta cena. decorre em menos de 10 minutos, dos quais 7 foram gastos desde que o pedido chegou à mesa (Passo 6).
No dia a seguir, surpresa das surpresas, ei-los de volta! E recomeça nova contagem...
Nota: este é claramente um relato ficcionado. No entanto, é baseado na experiência de 6 Agostos a atender Agostinhos.
Continua dentro de momentos...
3 comentários:
Belo relato! Isso faz-me lembrar dos meus Agostos em Benidorm, onde tinhas grupos de tugas em cada esquina, e os topavas a 500 metros de distância!
Ora aqui está o "verdadeiro" Portugal que, "só lá fora", diz bem de "cá dentro".
Bom povo "agostinhês"
É caso para dizer: Valha-nos Santo Agostinho...
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