De visita à Tasca #2, aproveitei para almoçar com o meu amigo Vitor e ir tomar um café à concorrência (ou não).
O café onde fomos está situado em plena Praça Marquês de Pombal em Vila Real de Santo António e pertence ao meu amigo de perto de 30 anos, o Zézé. No nosso tempo de escola, tratávamos o Zézé por outro nome, relacionado com uma novela da Globo, mas agora que já somos adultos (?), dispensamos essas alcunhas, pelo menos se estiver gente por perto...
O Zézé, foi daqueles vilarealenses que pôde saír daquele meio, tendo-se formado em Economia. Desde que se formou, que se dedicou à restauração, com algum sucesso, diga-se, na zona de Lisboa. Contudo, depois de uma série de assaltos, decidiu desfazer-se dos negócios e voltar ao ponto de partida. Dito e feito, comprou esse café, montou fábrica de pastelaria e alargou depois o negócio para Monte Gordo com um café e as famosas bólimberlim, vendidas na praia.
Ele tem duas raparigas de 8 e 3 anos, e quando regressou foi à procura de casa e optou por ir viver para Ayamonte. Numa decisão que se pode considerar arriscada, matriculou a filha mais velha na escola espanhola. A miúda já tinha o 1º ano feito cá, mas a mudança foi feita sem problemas de maior. Afinal de contas, as crianças adaptam-se facilmente e aprendem rápido.
Do lado de lá, a Junta da Andaluzia (assim como o Governo da Madeira, mas sem o Jardim) garante a todas as crianças, acesso a escolas públicas se fôr esse o desejo dos pais. Caso não haja vaga no ensino público, a Junta providencia a entrada dos alunos no ensino privado, mas suporta as despesas. Claro que há sempre quem prefira o privado, mas diz-me o Zézé que a qualidade do ensino é bastante boa. O Inglês é ensinado logo desde o 1º ano, e quando lhe perguntei, sabendo como se fala "estrangeiro" naquela terra, ele disse-me que os professores de línguas são bons e que sabem falar Inglês correctamente. Lá, os alunos passam 2 anos com cada professor, mudando ao fim de cada ciclo. No último dia de aulas, é dada aos pais uma lista de livros e de material necessários para o ano seguinte. O Zézé, no fim do ano escolar transacto baldou-se à reunião, em parte também por desconhecimento de causa. Ontem de manhã foi à escola tratar dos pormenores do regresso da filha às aulas e foi-lhe dada a tal lista de material escolar. A lista tinha os preços de cada coisa e totalizava 150 €. Em frente à escola há uma papelaria (lá como cá) e ele deixou lá a lista, de modo a poderem mandar buscar os livros a Huelva ou Sevilha. Foi-lhe pedido para assinar a requisição dos livros e ele assim fez. Quando perguntou à senhora que o atendeu se era preciso sinalizar os livros ou pagá-los na sua totalidade, para grande espanto dele, foi-lhe dito que assinar a requisição bastava, isto porque a Junta da Andaluzia paga os livros das crianças até ao 6º ano...
Resumindo, ele é que tem juízo! Fixa lá a residência, as filhas não perdem as referências lusas mas vivem num sítio mais acessível. Segundo ele, a diferença de tratamento é gritante e deu-me o exemplo dos bancos. Em Espanha é tratado como deve ser, sem subserviências mas com maneiras. Em Portugal, este verão, a esposa foi a um dos bancos depositar moedas e ouviu o agradável comentário: "Moedas! Devem estar a vender muitas Bolas de Berlim na praia..." Vá uma pessoa querer ser profeta na sua terra com gente deste calibre.
Eu, sempre fui um acérrimo defensor do nosso país e nunca fui muito de amores por nuestros hermanos, mas confesso que cada vez mais vou mudando de opinião. Claro que noto nos espanhóis uma ligeira modificação no comportamento em relação a nós. Ou então, somos nós que estamos tão mal comportados que aquilo do lado de lá é mais apelativo...
De qualquer forma, vou ver se arranjo motivos para pedir asilo político ou, melhor ainda, asilo económico a Espanha.
2 comentários:
Pois é. Qual "nem bom vento nem bom casamento" qual nada.
Há coisas que, por serem tão diferentes das nossas (para melhor, entenda-se), nos custam a entender.
Não sei se estas ajudas que referiste, são comuns em todos os "ayuntamientos". No entanto, por estas (e por outras) é que sempre fui a favor da regionalização, pese embora os contras que teria.
Mas, pesando os prós e contras...o benefício da população local seria sempre mais protegida e menos esquecida por um poder central demasiado urbanista.
Uma amiga minha, quando vim 'parar' a VRSA, disse-me logo que por este andar (sempre a descer, geograficamente falando) estava aqui do lado de lá...
Ai, como é duro ser ´patriota' (ou será antes... idiota?...)
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